quinta-feira, 6 de março de 2008

algo mais que vinte anos de praia

Depois de tantos anos de carnaval este era só mais um. E pensar que já estava com quase cinqüenta anos e já dava pra fazer, com razão, aquela piada dos “vinte anos de praia”. Porém, já eram uns trinta.

Não estavam nem com muita vontade de ir na rua mas, sem o luxo de TV paga e com as locadoras de vídeo da cidade todas fechadas, ficou entre ver o carnaval das capitais nos canais abertos ou descer para o centro da cidade com a namorada ver o foliões se esgotarem de tanto pular, brincar... E beber. E o povo bebe, sem perspectiva de parar. E ele também. Tudo bem, não tanto quanto em carnavais passados mas não se consegue vê-lo muito tempo sem uma latinha de cerveja na mão. Tem até chegado em casa caminhando sem trocar as pernas e conversando sem embolar muito a língua.

Sentado na cadeirinha de plástico lembra, entre uma baforada e outra em seus inseparáveis cigarros, de como aquilo tudo começou naquela cidade, do bloco que ajudou a fundar e das mortalhas que eles vestiam. E era apenas eles mesmo, mulher não entrava no bloco, se quisesse que pulasse atrás da corda no final. O que já tinha mudado a muito tempo, agora era tudo misturado: mulher, homem, meninos e meninas. Muito menino, todos sentindo os hormônios explodirem e loucos pra saber quem da turminha irá beijar mais aquela noite.

Que povo feliz, ele pensava. Sertão da Bahia, a situação a cada dia mais difícil. Aquele, o primeiro carnaval que era realizado depois de alguns anos. As autoridades temiam que, como a festa chama muitos turistas, poderia ocorrer um colapso no abastecimento já que a cidade estava tendo problemas com a falta d’água. A oposição diz que isso é história, que a grande questão era não gastar muito dinheiro em festa pra poder fazer aquele caixinha com os olhos na próxima campanha. Talvez dirão que a festa não tava boa, talvez diga que teve muita confusão e que as bandas eram ruins, afinal de contas esse é o papel da oposição.

O certo é que nosso amigo estava satisfeito com a volta da pulsação naquelas ruas no mês de fevereiro, mesmo que dentro dele a coisa não estivesse tão festiva. Mesmo que vez ou outra lhe batesse ares de folião que o fazia levantar e ensaiar uma empolgação suas preocupações mais profundas sempre o deixava com um olhar grave e perdido. Mas ali, naquela noite, o que mais lhe pertubava era como aquela mulher que rebolava ao som do trio elétrico a alguns metros podia ser tão gostosa.

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