quarta-feira, 20 de junho de 2007

Com certeza poucos da minha idade viveram a tradição junina como, talvez, meu pais. Eles me falam de um tempo em que as fogueiras ardiam nas ruas em frente às casas, as portas estavam generosamente abertas com as mesas convidativamente fartas. Qualquer um, até os menos conhecidos, poderia cumprimentar com a senha auto-convidativa: “São João passou ai?”, respostas afirmativas eram sons de um dedinho de uma prosa saborosa. Sem querer dar vazão a uma nostalgia de tempos que não vivi, como os estudantes que acham que estamos nos 70, mas me permitam dizer: Eita tempo bom! Resta pouca duvida de que era um tempo melhor de se viver.

Eu ainda peguei as fogueiras nas ruas, banquete na casa de Vó Senhorinha ou de amigos mais chegados, isso em Brumado, em Conquista disso nunca vi. se foi o velho jeito de fazer São João, esvaiu. Evoluiu? Sem querer negar as transformações naturais da sociedade, mas as vezes essa evolução é usada, dissimuladamente, para maquiar nossa incapacidade de confiar e nos relacionar com as pessoas, conjuntura consternaste de cidades como Vitória da Conquista. Faria pouco ou nenhum sentido convidar o vizinho para comer uma canjiquinha e tomar um licorzinho se durante o resto do ano o contato mais próximo que temos com a maioria deles é quando estamos prestes a adentrar em nossos portões e eles nos deles.

A festa de São João é, como quase todas as outras festas católicas, substitutos das festas das antigas religiões, festas pagãs. Os aspectos de uma festa de agradecimento aos deuses por uma colheita abundante ficam bem explícitos. Dançar em volta da fogueira, toda aquela comida, toda a bebida e os sorrisos nos rostos. Um louvor a deusa Juno, a deusa da fertilidade. Não é a toa que se chama festa junina é acontece no mês de junho. Os cristãos católicos comemoram o nascimento de João, aquele que anunciaria a vinda do Messias.

Mas toda esses traços de uma verdadeira festa popular, não impediu a sua institucionalização. As iniciativas públicas e privadas colaboraram com a transformação na medida em que tiraram as festas dos núcleos familiares e transformaram em grades shows para multidões, o tipo de evento em que confraternização e solidariedade passam desapercebidos. Acredito que os únicos lugares que acabam por assegurar um pouco do espírito da festa são as escolas. Lembro de quando eu participava. Não faltava nada. Tira um dinâmica interessante de cada sala fazer uma barraquinha com as comidas e ainda a quadrilha com todo mundo dançando na quadra. Mas a parte que eu mais me interessava eram os fogos, como todo menino mais ativo, as bombas em especial. Penso que eram esses os únicos momentos que a diretora arrependia da tal festa.

O certo é que a cada inverno, a cada junho, vou com parte da família para uma pequena vila no meio da caatinga, em decadência desde a privatização da ferrovia, mas a fogueira queima e tenta não deixar apagar a chama da tradição.