sexta-feira, 19 de maio de 2006

PALCO DO ROCK: A ALTERNATIVA NA MICONQUISTA

Espaço Conquistado pelos membros da cena rocker completa quatro anos.

A multidão, em sua maioria, vestida de preto e calçando os típicos tênis allstar se aglomera na Praça Guadalajara – mais conhecida como praçinha da normal – esperando o som começar. Não demora muito alguns dos que por ali caminhavam e conversavam sobem ao palco e começam a tocar, guitarras distorcidas, baterias velozes e vocais, as vezes gritados em outras cantando tão doce melodia, é o rock conquistense mostrando seu vigor e a qualidade de suas bandas em um dos principais eventos do estilo na cidade: o Palco do Rock da Miconquista.

Há quatro anos consecutivos, dentre os dezoitos anos de micareta, a Prefeitura Municipal concede esse espaço alternativo para o público rocker da cidade e, mesmo a miconquista sendo a maior festa da Axé Music do sudoeste baiano, nada parece incomodar o público e bandas do palco do rock, que, com equipamentos nada comparáveis aos utilizados nos trios elétricos, nem percebem quando eles passam pela avenida com o exército de foliões pulando alegremente vestidos com seus abadás multicoloridos.


Durante os shows das bandas com a musicalidade mais pesada, abrem-se as rodas de dança, o chamado mosh. Pernas e braços giram pelo ar em movimentos descontrolados, o que não assusta os membros da cena, mesmo quando alguém acidentalmente acaba se ferindo. O mesmo não acontece com a polícia que, por vezes, confunde a dança com briga, acaba por interferir e, vez ou outra, tomam partes da indumentária de um dos participantes. O vocalista da banda que está no palco no momento alerta: “Bracelete também faz parte do rock’n’roll”. É tarde, os garotos terão que buscar no final do evento seus acessórios no posto policial.


As bandas são dos mais variados estilos, vão do pop rock, passando pelo alternativo/indie e pelo punkrock/hardcore e chegam até os sons extremos das bandas de metal. E, durante os quatro dias, percebe-se claramente quem são as bandas que mais agradam o público e as que mais agradam movimentadores da cena que, definitivamente, não são as mesmas. A maioria dos que formam o público do rock gostam mais das bandas que tocam covers dos grandes grupos do rock mundial, não dando muita atenção para as bandas que se preocupam em produzir suas próprias canções, porém são essas que acabam agradando os produtores e os “cabeças pensantes” do meio. “Se prestarmos atenção, a mesma lógica se reproduz nos trios e aqui”, critica Gustavo Martins, 23, jornalista do blog da MTV e vocalista da banda Ecos Falsos que também tocou no evento, “um monte de gente curtindo o som de bandas que tocam musicas dos outros”, completa o comentário.

Destacam-se, na cena conquistense, bandas como a de thrash metal InAlpha, as de punk Princípio Ativo e Cama de Jornal e a de indie rock Ardefeto, todas tocando um setlist formado em maior parte por músicas de própria autoria. InApha faz até uma homenagem ao cineasta conquistense Tonis Lima, o Gaguinho, que contribuiu com sua participação especial durante o show da banda com uma performance inesquecível enquanto bradava ao microfone: “Sem um real no bolso, com uma câmera na mão e um idéia na cabeça”, a formula da qual utiliza pra produzir seus filmes. A Princípio Ativo faz um show energético, rápido, uma música seguida da outra, quase sem pausas, intervalos só quando em espécies de vinhetas, quando lembram músicas de desenhos animados ou seriados de TV, enquanto em suas letras criticam as injustiças, a religiões alienantes e o uso de drogas. A Cama de Jornal é, sem dúvida, a banda mais conhecida da cidade, fazendo o punk tosco com letras diretas e com o vocalista Nem, sempre irreverente e inconfundível. “Isso é Cama de Jornal, meu irmão, vamos curtir na paz e na moral, na paz e na moral, falou?”, gritava. Outros destaques são para as bandas Blasfêmia e Charlotte, bandas formadas por meninas. Para uma cena em que a maioria das bandas são formadas por garotos, elas fazem a diferença, levando atitude e sem perder a feminilidade fazem o rock com muita garra.

Só é triste ver tantos jovens bebendo e isso não se restringe ao espaço do rock, o qual por estatísticas, da própria policia, é o local que tem menos ocorrências de brigas e assaltos durante a festa. Mas ver um número tão grande de jovens usando tanto álcool, entre outras drogas, é desanimador, achar que estar bêbado faz parte de uma suposta rebeldia e atitude é uma grande ingenuidade. Tem-se que valorizar o trabalho de bandas que discursam claramente contra esse tipo de postura. O jovem tem de perceber que o rock e as drogas não têm que, necessariamente, andarem juntos e como estas atrapalham o seu dia-a-dia. Até mesmo a curtir os shows, já que muitos acabam caídos pelos cantos antes do término das apresentações, sem contar que estar alcoolizado é, muitas vezes, motivo para iniciar brigas sem motivos e acabar com a harmonia entre banda-público e entre cada um dos que estão ali presentes. Mas, infelizmente, enquanto o publico rock for formado por uma maioria que quer mesmo, tão somente, bater cabeça e vestir roupa preta, sem entender o rock como uma ferramenta de ação para a modificação de uma realidade, essas situações sempre serão bem comuns e presentes nos shows de rock.

A Miconquista 2006 não foi uma das melhores, pouca gente nas ruas, em comparação aos outros anos. Alguns até fizeram a brincadeira irônica chamando a festa de Massicareta, em alusão ao bloco Massicas, pois foi o único bloco que saiu todos os dias. Mas nada disso afeta o já consagrado Palco do Rock e seu fidelíssimo público que sempre esteve presente e, com certeza, estará nós próximos anos de folia e mosh!

7 comentários:

Társis Valentim Pinchemel disse...

Um dos textos que escrevo pra faculdade. Como aqui tava sem nada de novo, como eu tenho uma icapacidade descomunal (ou até bem comum) de nao escrever as coisas que penso: "vou colocar no meu blog".
ta aí.
é isso.

Anônimo disse...

ehehei Pode crer!

Alma quase bonita... disse...

hum...
vida longa às boas idéias.

Anônimo disse...

praçinha não tem ç..
fazer o q..
adoro vc!

Anônimo disse...

Anime-se! Ao menos você pensa! Há pessoas em situações bem piores...
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A questão das drogas é preocupante... Mas é preciso mais que Rock'n'Roll para trazer ou formar a consciência. Conta-se com a vontade individual?...
Mas a parte que vos/nos cabe está sendo feita. E isso importa. =)
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Pensando bem...
Não escrever o que pensas pode surtir um outro efeito: fazer dos que [poucos?] prestam atenção as tuas palavras discípulos...
E vai saber quem é que vai agüentar! :D
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Lembre-se:
O MISTÉRIO DA ESCRITA ADVERTE:
Abstinência de postagens causa oxidação da criatividade e da linguagem poética.
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Anônimo disse...

Adorei o texto. Percebe-se que já que um ótima jornalista que tem marca própria em tudo que publica (quero ser assim também!! rsrs).
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"achar que estar bêbado faz parte de uma suposta rebeldia e atitude é uma grande ingenuidade"
Isso é mais questão de influência. Algumas pessoas já têm preconceito contra o publico rocker por conta das bebedeiras e confusões causadas em shows e até mesmo nas ruas. Então só resta a pessoas como você usar meios (shows e textos) que possam fazer esses jovens refletir sobre essa realidade.

Prá encerrar: "somos quem podemos ser. Sonhos que podemos ter"

Anônimo disse...

Bem legal seu blog,gostei bastante do texto.
Jel que me indicou,falou que era muito bom,e com razão.